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Contos-->ETNECONI E A LIÇÃO DO FALSO PARCEIRO ATERACIP -- 01/04/2000 - 23:35 (Oswaldo Francisco Martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ETNECONI E A LIÇÃO DO FALSO PARCEIRO ATERACIP
Oswaldo Francisco Martins

Naquela manhã, Etneconi havia acordado agitado, pensando no por vir de sua futura empresa, a qual deveria ser aberta com a ajuda do SEBRAE do município de Salvador, por ser mais rápido e mais barato tal processo ali conduzido. Tinha algumas dúvidas sobre qual área do mercado deveria cobrir, mas havia se convencido que deveria aproveitar sua experiência de engenheiro egresso de grandes empresas instaladas no Estado da Bahia. Naturalmente, trabalharia com produtos “high tech” de mais fácil comercialização junto às diversas classes sociais, não só pelo aspecto da novidade que então apresentavam e que deveria certamente atrair os consumidores baianos (brasileiros e latino-americanos, provavelmente!), mas pelos baixos preços frente aos similares fabricados neste país.

Depois de ter realizado algumas viagens ao exterior, Etneconi estava deslumbrado com os sistemas de som e computadores - eletrônicos, de um modo geral - raros no Brasil, de difícil obtenção por aqui, abundantes e baratos nos Estados Unidos, onde a escala de produção e a demanda dos produtos explicam seus preços supercompetitivos em todos os lugares do mundo e, em especial, no Brasil, onde até recentemente se fez reserva de mercado para fabricantes nacionais e até mesmo para estrangeiros por muitos anos, os quais produziram sempre bens de qualidade pouco confiável e de preços elevados frente aos praticados no resto mundo, tudo isto em função de terem tido assegurada a demanda de comercialização de seus produtos, de forma perversa contra os consumidores locais, que em sua maioria continuam sendo meros trabalhadores remunerados a salários de terceiro mundo. Imprevisivelmente, Etneconi acabou por conhecer naquela excitante manhã de um ensolarado sábado, a referência de um ‘importabandeador’ através de um empresário lojista de Salvador, com o qual conversou pela primeira vez por telefone, naquele setembro de 1996:
– Olá, Odnanerf?
– Sim, Etneconi, em que posso servi-lo?
– Eu gostaria de ter alguns preços de discos, mais especificamente de CDs e LDs importados dos Estados Unidos. É para meu próprio uso e não para eu comercializar, certo?
– Claro, claro! Eu tenho trazido muito deles para alguns clientes de Salvador e posso garantir que meus preços são muito bons, mas normalmente eu cobro adiantado, certo!?
– Eu gostaria de poder conversar mais estreitamente contigo. Quando eu poderei te visitar, agora?
– Hoje não vai dar, pois estou viajando daqui há pouco para a Flórida. Vou buscar umas mercadorias lá, mas vamos deixar acertado nosso encontro para quando eu voltar dentro de duas semanas. Se você tiver algum pedido para fazer, então pode me dizer, certo?
– Bem, eu gostaria que você procurasse o LD Concert in Central Park de Paul Simon & Art Garfunkel e o Unplugged de Eric Clapton, OK?
– Pode deixar, vou comprar pra você, tchau!
– Boa viagem!

Parecia que o acesso ao Odnanerf, famoso ‘importabandeador’ de Salvador, se comportava como o início do contato com o primeiro mundo, mesmo daqui de Salvador. Todavia, cerca de vinte dias depois, a percepção de que os preços do Odnanerf não eram nada baixos, porém iguais ou até superiores aos praticados no comércio de Salvador, gerou uma tremenda decepção para o Etneconi, que tinha acreditado na boa vontade do Odnanerf para conseguir os LDs. Ficou claro que o atravessador e contrabandista se valia da idéia de que era capaz de trazer para Salvador tudo que desejasse porque pagava ‘caixinha’ aos fiscais alfandegários, ganhando em troco seu livre trânsito com mercadorias contrabandeadas do exterior pelos aeroportos nacionais, principalmente, coisa que nunca detalhou ao Etneconi. E no dia do recebimento dos LDs pelo Etneconi, no escritório do contraventor...:
– Odnanerf, como você consegue entrar no Brasil com tantos “scanners” de mais de dois mil dólares?
– Etneconi, caro amigo, você não queira saber como eu sofro, tendo que fazer duas viagens por mês aos Estados Unidos, pelo menos!
– Claro, claro! Etneconi percebera ali tratar-se de um contrabandista articulado, que ganhava muita grana e, assim, não haveria porque detalhar suas ações ou ligações pouco recomendadas, provavelmente por serem criminosas neste perigoso mundo do contrabando, para uma pessoa de boa conduta.
– Olha, tenho um “scanner” de primeira, veja só sua embalagem!...
– Quanto custa?
– Apenas dois mil e quinhentos dólares!
– Apenas?
– Em Salvador está custando US$3,200 à vista e este pode até ser feito em duas vezes!
– Pra mim, não dá, posto que tenho outras necessidades a satisfazer primeiro e, além do mais, estou gastando muita grana com a infra-estrutura de minha empresa, pois pretendo tê-la operando no final de outubro. Obrigado!

Etneconi estava empolgado com a idéia de entrar para a atividade comercial e já havia percebido ali algumas nuances que muito o tinham desapontado. Destacavam-se as margens elevadas que se poderia obter em tais transações e o uso da mentira em prol da consecução de objetivos comerciais, vistas no seu contato com o contrabandista Odnanerf e já observadas em seu provável sócio Ateracip, um ex-funcionário de várias empresas, onde havia labutado como técnico da área de exatas (cuja saída daquele mercado ainda é curiosamente pouca entendida!...), o qual já ensaiava os elementos da safadeza comportamental em sua própria apresentação, ao candidatar-se ao posto de parceiro no negócio que o Etneconi havia decidido empreender, uma vez que não dispunha de nenhum dinheiro para empregar na empresa, como também não tinha nenhum amigo capaz de ajudá-lo, exceto o Etneconi, um cidadão de boa índole e de grande e bondoso coração. Tais fatos sobre o Ateracip só foram percebidos muito depois pelo Etneconi, apesar de ter sido chamada a sua atenção por sua esposa e por amigos verdadeiros quanto à suspeita sobre o deplorável caráter de seu falso parceiro. Naquele momento, Etneconi já tinha verificado de que não teria muito tempo para dedicar-se à empresa, daí a necessidade urgente de um parceiro para tocá-la no dia-a-dia das transações do mercado que deveria ser explorado pelos dois, acabando por surpreender a todos e ter o Ateracip como seu sócio, que inteligentemente mostrou-se com muita vontade de acertar no início da parceria, como se fosse mesmo a última chance de sua vida! Sim, era uma oportunidade que nenhum ser humano - se conhecedor do caráter do Ateracip ou se pelo menos tivesse dado um mínimo crédito aos comentários ouvidos de antigos amigos sobre sua conduta, não o teria aceito como amigo e muito menos para sócio, sem dúvida, como mais tarde Etneconi haveria de se aperceber do erro que cometera por ter sua teimosia falado mais alto naquele momento inicial.

Sem saber das mutretas praticadas no comércio por Ateracip, Etneconi estava sempre a ouvi-lo a soltar o verbo ao revelar sua capacidade empreendedora na área comercial, já prometendo o fechamento de uma prestação de serviço pela empresa a um lojista do mercado local, de sorte a pagar as contas (despesas e custos) da empresa recém aberta. Tudo isto alegrava e encantava o Etneconi, que não tinha nenhuma maldade e não impunha descontos sobre os exageros que seu (pseudo)parceiro falava, ao ressaltar seu objetivo de ganhar muito dinheiro e de já conhecer o mercado local. Também, Ateracip se vangloriava de bem conhecer os Estados Unidos e de ter amigos morando lá, onde também haveria de morar no futuro breve, após ‘acertar’ sua vida no Brasil. E, assim, Ateracip não parava de se promover, parecendo querer fazer a cabeça de Etneconi a seu próprio respeito, na qualidade de grande e competente empreendedor, sempre revelando suas façanhas (sem maiores provas, é claro!) como trabalhador arrojado etc. e tal:
– Etneconi, tive uma idéia fantástica. Vamos subfaturar mercadorias nos Estados Unidos e pagar menos tributos na importação. Então vamos ganhar muito dinheiro na revenda delas no Brasil e não há nada de ilegal nisto!
– Eu não conheço bem esta atividade, mas veja se não podemos agir dentro do certo, sem complicações!
– Deixa comigo, vou fazer uma pesquisa de mercado por fax para sondar os melhores negócios para a nossa empresa. Aliás, eu queria que você soubesse que já estou fazendo um excelente levantamento dos fornecedores americanos e já tenho uma empresa para fazer despachos de cargas para nós nos Estados Unidos. Vamos dividir a conta telefônica, pois tenho usado muito o telefone lá de casa para a nossa empresa!
– Certo, tudo bem, já que se trata de ligações para a empresa, vamos dividir esta conta.

Iniciava-se, então, o nascimento do fracasso de uma relação, revelando-se que na atividade comercial ou, de forma mais ampla, no empreendedorismo em parceria, as obrigações devem ser igualmente partilhadas a priori e não a posteriori, como já ensaiava o falso parceiro, procurando tirar proveito do negócio recém começado, esquecendo que o mesmo se apoiava na confiança do Etneconi sobre sua pessoa, fato sabidamente suportado na ampla ajuda pessoal que sempre lhe havia sido prestada pelo inocente amigo, que agora culminava em tê-lo como parceiro.

Mais adiante, ficaria revelada a falência financeira do parceiro de Etneconi; e, Ateracip, por ter fracassado em todos os seus empreendimentos anteriores e por estar mais sujo do que ‘pau-de-galinheiro’ nos bancos de Salvador e também no comércio local, limitava-se a usar uma procuração da esposa e do sogro para agir como gerente de uma derradeira empresa comercial, muito complicada por ter sonegado tributos ao fisco durante anos e por também ter realizado muitos negócios fraudulentos, principalmente aqueles concretizados via o atendimento de carta convite na área pública (em que sozinho participava ilicitamente com até três empresas, numa prática de supervalorização dos bens ofertados por todas as concorrentes, efetivando uma ‘maracutaia’ em que a firma com menor orçamento - a sua empresa, óbvio! - sempre acabava por abocanhar o negócio pleiteado, de forma lesiva aos cofres públicos), numa ação criminosa contra o Estado, onde se valia do pagamento de propinas a funcionários corruptos das instituições em que atendia com revenda de seus produtos superfaturados. Portanto, estava duplamente na mira dos fiscais de tributos e da própria ação policial, fato suficientemente observado por Etneconi e que logicamente caracterizava seu ex-parceiro como sonegador, com as qualidades de picareta e de larápio de intenções inescrupulosas. Finalmente, após tais revelações virem à tona para o conhecimento de Etneconi, sobrou a lição de que não se deve ter parceiro antes de uma exposição clara de suas obrigações e de sua participação igualitária nas despesas e nos custos do empreendimento (e não apenas nos lucros obtidos nos negócios realizados!) e de realizar uma meticulosa investigação sobre a conduta do mesmo, pois certamente não se poderá ter uma convivência sadia se o comportamento do parceiro é condenável moral e eticamente pela sociedade, posto que se o indivíduo é de má índole e/ou de condenável conduta estará sempre disposto a aplicar seu ‘aprendizado’ contra o ser humano na realização de suas ações laborais alopradas, inescrupulosas, imorais e não éticas. E, em suas derradeiras palavras de despedida, conformou-se o descarado cinismo de Ateracip em sua marginal fuga, de forma hipócrita e lesando sobremaneira a confiança de Etneconi, que então já expressava sua desconfiança sobre as desonestidades praticadas pelo repugnável sócio, em desespero com sua falência financeira e escondendo a cara daqueles que já tinham manifestado crítica contrária à falsidade que não conseguia disfarçar com seu simpático comportamento de enganador de pessoas menos conhecedoras de suas verdadeiras ações, aí incluindo-se sua família, sua esposa e seus filhos e amigos (que não o procuravam mais, também lesados por aquele canalha em sua grande maioria!), em freqüente pregação de desencontradas mentiras, chegando a ferir a inteligência alheia:
– Todos vamos sair ilesos deste negócio!

Fora a última visão da insana face daquele hipócrita e, depois de ter sido literalmente ludibriado pelo mesmo inconseqüente aproveitador (que causou tantos e incalculáveis prejuízos àquela promissora empresa e ao próprio Etneconi e sua família - os quais viram ir pro ralo muito de suas economias acumuladas ao longo de décadas de muita labuta, durante aquele curto e prejudicial período de mais de um ano, impropriamente apoiada na péssima atuação de Ateracip nos mercados em que a firma se fez presente), Etneconi ainda a preservou após saneá-la dos malefícios causados pelo mencionado cretino. Em seguida, arregimentou um leal e competente sócio, sabedor de suas obrigações e de seus direitos, o qual pode ser visto como um empresário ‘pé-no-chão’ e sem desvio de conduta, possibilitando iniciar a recuperação do sonho de Etneconi de tornar-se um empresário honestamente bem sucedido, mesmo atuando apenas numa pequena área comercial dentro do gigantesco mercado brasileiro!

Pelos resultados alcançados pelo novo binário “team” da pequena empresa comercial, Etneconi não se cansa de lembrar e pronunciar para si mesmo e para o atual parceiro a popular frase usada costumeiramente por seu magnífico sogro:
- “Quem com porcos se mistura, farelo come!”

Por fim, ao contar o ocorrido aos seus familiares, amigos e conhecidos, Etneconi costuma recitar o soneto “Vendedor Larápio”, relembrando o abominável caráter do crápula Ateracip, que literalmente o enganou, legando-nos ainda a mensagem maior de que compete ao nosso bom Deus o ajuste final de todas as contas dos mortais, enfatizando o comportamento imoral e decorrente da fraqueza do ser humano quando doente da alma, configurando um exemplo que jamais haveremos de esquecer no por vir de nossas vidas:
- “- Ó, negociante espertalhão,/ vivo ladrão contra boa gente;/ tua morada será na prisão,/ junto da morte à tua frente!// Safado que até a Deus engana,/ que tem o caráter em falta/ em tua maldosa ação mundana/ - és larápio com vasta pauta...!// Sim, por ludibriares humanos/com tantas palavras sem amor/ - és mentiroso, sim, sem pudor!// Muitos já sofreram enganos/ por ti, - ó, tão odiável, torto,/ falso que pra Deus está morto!”.

E-mail: omartins@cpunet.com.br
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